Estrangeiros no momento
2005-05-27
Despedida
Para ser coerente com a minha situação real de bloguista solitário decidi ir para uma casa mais pequena. Estarei aqui.
Um dia, pode ser que voltemos todos...
RF
2005-05-22
Cretinices
O futebol me interessa pouco apesar de responder se me perguntam, que sou benfiquista. Não me dá alegrias para lá dos minutos e tristezas para lá dos segundos. Gosto de que seja assim, e trato de que assim seja.
No entanto é interessante ver como para muitas pessoas, que normalmente nos podem parecer minimamente lúcidas a maior parte do tempo, o futebol se trata de uma espécie de campo aberto ao exercício de profundas cretinices escondidas, ou não tanto. Se estavam ansiosos por poder ganhar o campeonato, se ficaram desiludidos ao não ganhar-lo porque tentam agora ridicularizar ou minimizar a vitória do adversário?
Ao falar de futebol toda a estupidez está autorizada e se encontra ao mesmo nível que as maiores genialidades. Por isso evito falar de futebol.
Ainda bem que o Benfica ganhou, porque digo que sou benfiquista quando me perguntam. O mérito que haja neste facto é o de haver-se feito realidade, como todos os méritos, sempre. O mérito que tem o Porto é o de haver disputado até o último momento, literalmente, pelo título. O mérito que tem o Sporting, é o de haver tentado até a penúltima jornada. O mérito de qualquer torcedor não está em festejar a vitória, mas sim o de respeitar a derrota ou a vitória do adversário. Era isso o desporto, certo?
RF
Contextos
Cuba expulsa diversos deputados de países europeus por infeliz coincidência de suas visitas a ilha por ocasião de encontro autorizado de dissidentes ao regime castrista. Bebendo cerveja debaixo do sol de maio, o tema surge na discussão. Um amigo, militante do partido comunista espanhol tenta justificar os defeitos de Castro: "Há que ter em conta o contexto local para entender/desculpar Cuba". Eu lhe pergunto se o mesmo racicínio se poderia aplicar no caso da ditadura chilena de Pinochet no seu momento. Ele não me responde.
RF
Vesguice
Existem dois Bush. Um diz que (desmentidas as falsidades sobre supostas armas de destruição massiva) invadiu o Iraque por razões humanitárias, liberando um povo de seu ditador. Outro mantém relações cordiais com ditaduras remotas como a de Uzbequistão, onde recentemente o malfeitor-local-mor tratou de assassinar centenas de civis. Dizem que, no entanto terá reduzido um pouco as operações na base aérea que mantém no país. Será talvez para que não se dêem conta de que aquele ditador está lá em boa parte também porque ele, libertador universal dos povos oprimidos, assim o quer?
O outro Bush é dificíl de explicar com base na teoria de que o Bush invasor é resultado de ultra-cristianismos, ou ultra-idealismos vários. Como dizendo que ele Bush, é basicamente um homem bom, e o que nele há de homem mal, vem dele ser demasiado bom... É dificíl de entender os dois Bush a não ser entendendo que são o mesmo Bush, "exemplar moderno" do imperialismo e da arrogância norte-americana.
De resto quem quiser não ver, poderá continuar a fazer-lo. Só não é cego ou vesgo (vendo duplos sem estar-se necessáriamente bêbado) quem não quer.
RF
Com as coisas de comer não se brinca
As anchovas estão desaparecendo do mar cantábrico e desconfiam que já se podem considerar em extinção. Estou preocupado.
RF
Boçais
Chavez, a propósito das declarações recentes de Aznar no Brasil em contra dele e Castro, cita uma conversa telefônica que Aznar haveria mantido com ele mal chegado ao poder:
"Te daremos apoio do FMI, dos media e tudo o que peças, mas tens que afastar-te de Fidel, tens que mudar o discurso. Que revolução, que nada!", lhe haveria dito Aznar.
Como resposta a pergunta de Chaves sobre o que passaria a outros países do terceiro mundo sem os recursos naturais de Venezuela (Haiti, Africa, etc): "Esquece-te deles, que perderam o trem do futuro e estão condenados a desaparecer."
Chavez termina a sua história dizendo que "perto de Aznar, Hitler é pouca coisa."
(tradução e adaptação mais ou menos livre da notícia de Clodovaldo Hernández publicada no El País de 21 de Maio de 2005)
RF
2005-05-20
Mitologia do Fracasso
Li no Mar Malgado a mesma coisa que tantas vezes li, ouvi, inclusive tive que estudar no Brasil enquanto lá vivi... Falo do excerto de um texto do escritor brasileiro, João Ubaldo Ribeiro, citado no post "SOMOS UM PAÍS CORRUPTO" do auto-denominado Neptuno:
"Nós vivemos num ambiente de lassitude moral que se estende a todas as camadas da sociedade. Esse negócio de dizer que as elites são corruptas mas o povo é honesto é conversa fiada. Nós somos um povo de comportamento desonesto de maneira geral, ou pelo menos um comportamento pouco recomendável." (...) "...o domínio dos portugueses ocorreu de uma maneira desordenada, desregulada, importando caoticamente a burocracia lusitana, com a corrupção que essa burocracia gera. Construiu-se toda uma visão do mundo centrada na ação estatal. A origem de muitos dos nossos problemas pode ser essa."
Supostamente se trata do que o escritor haveria dito em entrevista a revista Veja.
Esta necessidade dos países colonizados de buscarem respostas explicadoras da sua realidade (em geral sempre da parte má desta realidade...) precisamente na sua história colonial é provavelmente algo perfeitamente compreensível de um ponto de vista psicológico, mas que a mim sempre me fartou de cansar... Ouvir estes descendentes dos europeus que colonizaram o Brasil a se acalmarem do estado do seu país "fazendo a folha" aos "estrangeiros" que os colonizaram (e que são basicamente os pais, e os avós deles mesmos...) é algo que em mim provoca incômodo. O que também é em mim compreensível de um ponto de vista psicológico já que enquanto lá estive sentia que me estavam culpando a mim até que me apercebi que eu era o único ali que poderia não ser descendente destes colonizadores malévolos...
O mito da má sorte de haverem sido os portugueses a colonizar-los também é curioso já que nos leva a pensar se eles, os brasileiros, prefereriam que fossem os espanhóis e que aquilo fosse a Colômbia, ou será que prefereriam os holandeses e que aquilo fosse a Indonésia...
Nós, os portugueses de vez em quando também fazemos isso com nós mesmos, ao buscar explicações dos "nossos defeitos" nas nossas origens árabes...
Na base disto tudo o que está é racismo daquele tipo auto-destructivo mesmo se inconsciente. O mesmo que sentem os negros quando são eles mesmos a dizer, como já cheguei a ouvir no Brasil, "é negro mas tem alma branca", e outras coisas absurdas parecidas.
Por mais que possa entender porquê se dizem estas coisas, a pouca verdade histórica que haja nas palavras do escritor brasileiro não é suficiente para o banalizadas e recorrentes que as mesmas já se tornaram. Será que não está já suficientemente óbvio que estas mitologias do fracasso só servem para sentar-se e esperar por mais fracasso e voltar a repetir-las. É este o mecanismo psicológico circular pelo qual as mitologias, todas elas, sempre se fizeram a si mesmas "verdades".
RF
Leiam
Leiam Plutôt à gauche e pela Europa! do Bruno Cardoso Reis do Barnabé.
Os únicos que podem estar coerentemente em contra da Constituição Européia, em minha opinião, são os que fazem parte do chauvinismo nacionalista seja como for que este se incarne em cada uma das partes de Europa (se bem que, em geral, na sua forma mais pura e imaculada coincida com a extrema direita). Os outros, outra vez em-minha-opinião, estão pura e simplesmente equivocados.
RF
2005-05-19
Crispación y Amistades Peligrosas
A crispação que existe em Espanha entre governo e oposição (mesmo depois de trocarem os actores de papel) e que se acentuou depois da invasão ao Iraque, e mais ainda depois do 11M e, acima de tudo, depois do 14M, é algo absolutamente inimaginável para um português.
Esta crispação está a prejudicar, por agora, mais a oposição de direita que o governo de esquerda de Zapatero. Vejam, o "por agora"... Pois o motivo actual de maior conflito: a preparação de inicios de diálogos com ETA, me parece dar todos os motivos para que exista esta crispação. Eu, homem de esquerda, acho que Rajoy, e a oposição de direita minoritária e isolada no parlamento espanhol, têem razão neste tema.
Têem razão de um ponto de vista estratégico porque a luta antiterrorista contra ETA (pouco mais de um ano atrás este extra, "de ETA", não seria necessário...) é uma mais valia política óbvia do PP espanhol que o pacto anti-terrorista proposto pelo PSOE na oposição agora funcionaria como neutralizador. (Zapatero sutilmente admitia, ele próprio, que era este o estado de coisas.) E têem razão de um ponto de vista político porque não existe nenhuma pressão para que, com a ETA em decadência por força da repressão legal e policial (para a qual nunca é demais recordar o papel de uma maior colaboração francesa pós-11S), seja o governo espanhol a procurar uma porta de diálogo com os assassinos bascos. Ainda por cima quando toda a história recente de ETA indica que não existe nenhuma hipótese real de diálogo honesto e sério por sua parte.
O PSOE no governo está acertando em coisas muito importantes no campo social. E está falhando, ou arriscando-se demasiado a falhar em coisas fundamentais do ponto de vista político e territorial: a luta contra ETA, e o apoio dado a "terceiras ou quartas vias" nacionalistas que como todas "terceiras vias" não o são realmente.
Em Catalunha haveria sido muito melhor deixar que o partido com mais votos governasse (Convergência e União, nacionalistas catalães de centro-direita) do que através de coligações perigosas (falo da Esquerda Republicana de Carod Rovira) buscar a todo custo o poder e acabar por liderar um governo mais nacionalista que a alternativa anterior...
No país basco, que possui actualmente um estatuto político e de finaciamento mais autonômo que os estados norte-americanos ou alemães, qualquer abertura a revisões do estatuto é inevitavelmente um passo mais no sentido da independência (que não teria nada de errado não fosse ser um passo dado de forma inconsciente de que se está dando por aqueles que lideram a passeata, e por aqueles que neles votaram...)
O facto de não haver actualmente em Espanha uma alternativa política de esquerda real que esteja contra mais desmantelamento territorial é uma tragédia para aqueles que não gostam de saber que o partido popular espanhol terá sempre uma eterna bomba de reanimação insuflada pelos próprios partidos de esquerda espanhois... os melhores amigos dos seus próprios coveiros...
RF
2005-05-18
Josef Skvorecky - O Engenheiro das Almas
Ando a ler-lo, ou melhor e mais felizmente dito, a deliciar-lo. Talvez não seja um livro destes que abrem fronteiras, mas muitos grandes livros não o são. Algumas centenas de páginas cheias de vida (basicamente da vida do autor já que o livro é reconhecidamente quase autobiográfico), história e literatura. Poucos livros e poucas vidas nos permitem passar página a tantos momentos históricos de tão grande importância, e ainda por cima de esta forma: saltando entre cartas, memórias, pensamentos, aborrecimentos e medos vários. Sim, Faulkner, é claro.
Do gelo de uma juventude baixo ocupação nazi em uma pequena cidade da Bohemia, até a ocupação soviética e os medos estalinistas, e daí ao frio do exilio numa canadiana Ontario livre, aborrecida e frívola... ocidental, é claro. Tudo, sempre, ao mesmo tempo. Muito político (o que pode tornar o livro suceptível de más críticas políticas por parte dos mais suceptíveis politicamente) e ao mesmo tempo nada político. Cômico e melancólico. Sempre ao mesmo tempo, como deve ser.
RF
Claudio Magris - O Danúbio
Como havia prometido em um post anterior comprei a edição em espanhol do "El Danubio" de Claudio Magris... Sou obrigado a admitir que depois de umas poucas dezenas de páginas percebi que não queria ler o livro. Não fui capaz de sentir nenhuma espécie de atracção por esta enciclopédia em forma de prosa, e entristeci-me de descobrir entediante um senhor que me parecia tão razoável e pragmático e aparentemente tão bem inspirado. Musil, Thomas Mann e Kafka são mestres na confecção de prosas "deliciosamente aborrecidas" que nada têem que ver com a prosa-quase-enumeração-de-nomes de Cláudio Magris. Agradeço se alguém me ajudar a descifrar o gosto escondido em tais prazeres ou a aconselhar outro livro do mesmo Cláudio Magris para que o autor de Trieste possa em mim ser redimido enquanto autor de romances que supostamente é.
RF
Novo email
O email do blog passa a ser um gmail por todos motivos.
Para os demais bloguistas a contrasenha da conta é a mesma que a da conta anterior.
RF
2005-05-17
Politest
Com todas as ressalvas possíveis que estes testes merecem devido a sua visão hiper-simplificada da realidade (Quase sempre a resposta que se dá é aquela que um acha que na maior parte dos contextos e momentos daria mas de maneira nenhuma em todos...) este foi o resultado do teste proposto pelo Filipe. Ah!, eu gostei muito do resultado.
Vous vous situez à gauche.
Les partis dont vous êtes le plus proche (dans l'ordre) :
1. le Parti Radical de Gauche (PRG)
Le PRG est plutôt POUR la Constitution européenne.
2. le Parti Socialiste
Lors d'un référendum interne, les militants du Parti Socialiste se sont prononcés à 59% POUR la Constitution européenne. (L'aile droite du parti était en général POUR, l'aile gauche du parti, ainsi que Laurent Fabius et ses partisans, étaient CONTRE, le reste du parti était divisé).
Le(s) parti(s) qui vien(nen)t ensuite :
3. le Mouvement Républicain et Citoyen (MRC) de Jean-Pierre Chevènement
mais vous ne partagez pas toujours les mêmes opinions sur les questions économiques ou sociales, ni sur l'évolution des moeurs.
Le MRC est CONTRE la Constitution européenne.
4. l'UDF
mais vous ne partagez pas toujours les mêmes opinions sur les questions économiques ou sociales, ni sur l'évolution des moeurs.
L'UDF est résolument POUR la Constitution européenne.
RF
2005-05-12
2005-05-09
Esquisito... (suspiros de cansaço)
Esquisito é... ver un colunista de um jornal mesmo que em versão electrônica chamar de burros os seus leitores...
Leitores que tão burros não são já que realmente estes bombos todos que se ouvem em portugal hora porque acham que talvez um português chegue a papa, hora porque um jogador português marcou um golo, ou um treinador ganhou um campeonato estrangeiro, começam já a serem conhecidos por esta europa fora como uma "graciosidade singela" que emana desde um povo pequeno de gente pequena num canto pequeno ocidental do continente...
Que o colunista queira dizer que ao dar no bombo se estava realmente tocando uma composição de Emanuel Nunes não retira a impressão que fica nos ouvidos do estrangeiro de visita (mesmo que cibernética) que soavam muitos bombos...
Um treinador espanhol poderá ganhar a champions league com muito menos estrelas que Mourinho, havia mais que um cardeal espanhol na lista sucessória para papa... e no entanto nunca se fez mais que uma alusão a esses factos nas televisões e jornais espanhóis nos momentos em que se listavam todos os treinadores que se digladiariam, ou todos os possíveis sucessores a papa...
Há uma anedota portuguesa que diz que "o ego é o pequeno espanhol dentro de nós". Existe a frase feita de "ser mais papista que o papa". Portugal se está tornando mais papista que Espanha nessa coisa de egos papales...
Outro dia na RTPi vi o Eduardo Lourenço a ver-se a si mesmo anos atrás dizendo algo sobre a necessidade infantil de agigantar os feitos por mais pequenos que sejam que um país pequeno como Portugal possui... vi Eduardo Lourenço dizer ao jornalista em seguida a ver aquelas imagens de arquivo: "A coisa agora está muito pior..."
RF
Mais do mesmo
Fraga velho galego ex-fascista que dirige a galicia ao mesmo tempo que se dirige em público ao abismo da morte, disse que apoia os dirigentes autonomicos socialistas de andalucia e extremadura na sua luta contra a revisão dos estatutos do país basco e catalão e acima de tudo da revisão do finaciamento das duas comunidades e em particular da última, estranhamente liderada por uma coligação encabeçada pelo
próprio partido socialista.
Um historiador alemão, Gotz aly, afirma que o holocausto foi aceite pelos alemães e acelerado pelos seus dirigentes por razões econômicas.
Há pessoas que em portugal dizem preferir que fossem parte de espanha. Os cabo-verdianos gostariam de fazer parte de portugal. Os austríacos quiseram ser parte da alemanha. Os bascos não querem fazer parte de espanha. Corrijo, os bascos espanhóis não querem ser espanhóis, porque os bascos franceses se importam menos em serem franceses. Alguns catalães tão pouco querem ser espanhóis, e muitos querem levar as suas finanças de forma mais separada possível. As pessoas de olivença gostam de ser parte de espanha. Os alemães da cidade de colonia bombardeada durante a segunda guerra mundial não se importaram ao receber em suas casas móveis e roupas usadas de pessoas "não identificadas". Os espanhóis de gibraltar "não se sentem" espanhóis. Os turcos de chipre quiseram unir-se aos gregos de chipre, mas estes últimos não gostaram da idéia. Há paulistas no brasil que quiseram formar um país independente. E houve alemães ocidentais que não gostaram que lhes unissem com os orientais.
Devia existir uma lei no direito internacional que obrigasse a reconhecer pretensões de soberania somente baixo condição que os aspirantes em caso de conseguirem o que querem vão a viver com muito menos dinheiro que antes de serem soberanos...
Eu vou passar a escrever tudo com minúsculas, como diz a Fernanda do glória fácil, em especial nomes de países, línguas, cidades (talvez aqui abra uma excepção de vez em quando), apelidos, etc. Só os primeiros nomes de pessoas e frases terão maiúscula, e no caso dos primeiros quando não esteja embirrado ou por coincidência sejam inicio de frase.
Gotz aly diz que por patriotismo os primeiros dirigentes democráticos alemães da pós guerra queimaram e destruíram todos os documentos possíveis que permitissem identificar a dimensão da espoliação efecutada pelos nazis a pessoas e países ocupados durante a "loucura nazi". Se lembrariam dos móveis e roupas usadas que receberam em suas casas anos antes...
A patetice e a ganância herdamos todos, de todos.
Rf
2005-02-24
O menino perdeu o brinquedo
O menino perdeu o brinquedo e quase chorou. A voz tremia, mas ele se aguentou e a lágrima não apareceu. É um menino grande, dizem. Dizem que naquele momento foi grande. Fazer o óbvio e não o absurdo (como tentou outro...) já é coisa louvável no Portugal actual.
Como um menino lingrinhas qualquer ficou contente de não ter sido último na corrida do bairro. Por ganhar ao seu irmão. Por ser o menos lingrinhas dos dois.
O menino que falou mal da Europa, que queria um país de vendedoras de peixes, e seus mercados. Que como Salazar preferia que Portugal fosse pobre e miserável a que mudasse de cara. Pelo menos era o que dizia para conseguir os votos das vendedoras de peixe e dos salazarentos. O menino que depois afinal já queria Europa quando lhe deixaram chegar ao poder, limitando-se finalmente a ser um subalterno de Bruxelas qualquer, a não ser, é claro, quando estivesse em jogo a vida de crianças indesejadas por quem sem as desejar as ousa fazer.
O menino chorou em casa baixinho. Lhe tiraram o brinquedo. A ele, que esperava que um dia o brinquedo dele fôssemos todos nós.
Obrigado a todos por lhe terem tirado o brinquedo a este menino e seus amigos chorões.
RF
2005-02-18
Carnaval nas Neves
Mesmo que venha a perder o Santana, a pátria continua cheia de foliões. Ora leiam aqui a fascinante entrevista de João Cesar das Nevas ao Independente desta semana!
Nuno Anjos
Impressões da campanha
Agora que a campanha terminou, só umas notas escritas num estilo corrido, sem preocupações de objectividade, para ler no dia de reflexão:
1) A campanha foi muito mole. O governo de Santana Lopes foi demasiado curto para gerar ódios. O seu desempenho ficou marcado pela comédia, não pela contestação. A tragédia foi evitada a tempo e as instituições mantiveram um funcionamento normal. A unica falência flagrante do estado (o concurso dos professores) já vinha de trás, nem foi objecto de campanha. O estado português revelou que consegue sobreviver sem liderança política, um pouco como sucedia repetidamente em Itália. E que a constituição fornece os meios que permitem evitar o descarrilamento quando o maquinista está morto.
2) Porém existem áreas onde a ausência de discussão dos problemas revela uma verdadeira anestesia da (ainda) oposição. A direita sempre fez da segurança pública uma sua prioridade. Ora o governo Barroso assistiu incompetentemente à maior temporada de incêdios de que há memória. E os números da criminalidade mostram que a política criminal faliu. Porque é que a esquerda não fala disto? O recente assassínio de um polícia na Cova da Moura foi recebido por Santana e Portas com apelos ao não aproveitamento político. Faz rir quando nos lembramos do escarcéu causado pelo assalto a Lídia Franco na CREL ao tempo de Guterres. É claro que neste caso a repressão policial é só um paliativo necessário mas de difícil aplicação. A pergunta que deve ser feita é porque é que a Cova da Moura ainda existe. Não há dinheiro para reconverter aquele bairro e todos os outros bairros clandestinos da Amadora. Porque é que a terceira cidade do país não existe? O que fez o famoso Ministério das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional ( sim, o nome do bicho é MCALHDR)
3) Outras áreas onde a política deste governo não existe são a Ciência e a Cultura. Ontem o S. Carlos anunciou o fim da temporada. Hoje, o anuncio é moderado, mas é óbvio que a temporada está em risco. Hoje também se soube que Portugal ainda não pagou as quotas dos laboratórios internacionais. E mais, o orcamento actual não prevê nenhum pagamento este ano! Como classificar um orçamento que não prevê o pagamento de despesas resultantes de tratados internacionais? E se Portugal deixasse de pagar as comparticipações para a UE, NATO ou ONU? O problema é sempre o mesmo: falta de dinheiro... mas Paulo Portas tem dinheiro para encomendar submarinos, helicópteros, blindados, armar-se em recuperador das indústrias de defesa à custa dos contribuintes, ... E na campanha ninguem lhe atirou isso à cara.
4) Portas, claro, com tantas abébias dadas pelos adversários (a maior das quais pelo PSD, com o acordo pré-eleitoral), tem feito uma boa campanha. É indiscutivelmente um político inteligente, mas tem uma aura maquiavélica que não consegue ultrapassar. A outra boa campanha foi a de Jerónimo de Sousa. Como já foi amplamente notado, Jerónimo consegue gerar uma genuína simpatia. É o estalinista que nos toca o coração. Eu ainda me lembro dizer que os comunistas matavam os velhotes com uma picada atrás da orelha (eu ouvi mesmo isto, não é tanga!). As voltas que o mundo dá são muito irónicas.
5) Sofríveis têm sido as campanhas de Sócrates e Louçã. Sócrates procura passar despercebido e não discute propostas concretas. Não quer comprometer as suas hipóteses e sabe que a realização do seu programa, e a composição do governo, estão dependentes de ter ou não maioria absoluta. É a política mais prudente, e mais inteligente para quem está na sua posição. Tem o meu apoio, mas não fez nada para o conquistar. E, de facto, não me conquistou, mas também não foi rejeitado. Já Louçã torna-se dia a dia uma figura mais irritante. Já nem consigo suportar aquela voz aspirada. Eu até concordo com muitas das propostas dele, mas não dá. É a mesma sensação que muitos eleitores americanos devem ter sentido em relação a John Kerry. E como levar a sério um político que diz não querer ir para o governo?
6) E de volta a Santana... Ontem foi entrevistado no programa da 2 "Diga Lá Excelência". Foi certamente das mais bizarras entrevistas a políticos que eu já vi. Geralmente nestas entrevistas o político procura manter o controlo e debitar a sua agenta eleitoral. Não Santana Lopes. Refastelado na cadeira, Santana manteve uma conversa com os jornalistas que se aproximou da psicanálise. Um dos jornalistas leu-lhe a inacreditavel carta que eu citei no post anterior. E perguntou-lhe se ele, que é parte do sistema político desde sempre, se achava alguém fora do sistema. Santana achava que sim, que tinha muito em comum com o povo, e até podia comparar a sua declaração de rendimentos com o jornalista. Havia uma barreira de incompreensão notória entre as duas partes, como se estivessem em realidades diferentes. Os jornalistas olhavam Santana como se olha um doente mental, quando Santana repetia múltiplas vezes que não achava ter cometido erros graves.
7) No domingo saberemos se o PS tem ou não maioria absoluta. E poderemos deixar para trás estes meses surreais
Nuno Anjos
2005-02-16
Mais Carnaval
Hoje chegou à minha caixa de correio este texto:
"Caro (a) Amigo(a)
Não pare de ler esta carta
Se o fizer, fará o mesmo que o Presidente da República fez a Portugal, ao interromper um conjunto de medidas que beneficiavam os portugueses e as portuguesas.
Portugal precisa do seu voto para fazer justiça.
Só com o seu voto será possível prosseguir as políticas que favorecem os que menos ganham e que exigem mais dos que mais têm e mais recebem.
Você não costuma votar, e não é por acaso.
Afastou-se pelas mesmas razões que eles nos querem afastar.
E quem são eles?
Alguns poderosos a quem interessa que tudo fique na mesma.
Incluindo a velha maneira de fazer política.
Eles acham que eu sou de fora do sistema que eles querem manter. Já pensou bem nisso?
Provavelmente nós temos algo em comum: não nos damos bem com este sistema.
Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles tratem tão mal como a mim?
Também o tratam mal a si. Já somos vários.
Ajude-me a fazer-lhes frente.
Desta vez, venha votar. É um favor que lhe peço!
Por todos nós, Pedro Santana Lopes"
Eu não tenho dúvidas em responder a este apelo! Eu vou votar!
Nuno Anjos
2005-02-09
Viva o Carnaval!
Para celebrar o Carnaval, nada como um grande clássico da comédia: o já lendário video do hino oficial da campanha do PSD pode ser descarregado a partir daqui.
Nuno Anjos
Correcção:
O Rui Sá tem razão no seu comentário: este video de campanha não deixa de ser também um clássico, mas o video que já entrou na lenda é o superlativo Guerreiro Menino!
Nuno Anjos
2005-02-08
Declaração de amor
Esta série de belezas inglesas termina com aquela que é a minha preferida, a minha diva: Kate Winslet! Uma mulher genuína, de sorriso espontâneo e que sendo, na expressão de Aldous Huxley, "muito pneumática", consegue ser mais elegante que qualquer outra actriz da nossa geração. A Kate, que faz trinta anos este ano, já tem dois filhos e uma série de bons filmes feitos! Começou aos 17 no primeiro filme a sério do Peter Jackson, o realizador do Senhor dos Aneis. Tornou-se conhecida em todo o mundo com o famoso Titanic, de James Cameron. Nunca fui grande fã deste filme, mas convenhamos que está milhas acima de qualquer um dos subproductos de Michael Bay. O mais importante veio a seguir, pois a Kate optou sempre por filmes interessantes, com papeis importantes e empenhados. Tudo de melhor para ela!
No fim disto não fiquem com a impressão de que acho as inglesas as mais interessantes (só a Kate Winslet). Como Maurice Chevalier canta em Gigi, "Thank Heaven for Little Girls", de qualquer nacionalidade. Especialmente italianas... mas não vamos mais por aí!
Nuno Anjos
2005-02-06
Mulher! Objecto?
É quando as estrelas de cinema começãm a ter a nossa idade (ou a ser mais novas) que verdadeiramente vemos o tempo passar! Pois a bela Kate Beckinsale é nossa contemporânea. Esteve em Oxford, desempenhou papeis interessantes em filmes ingleses, e saltou para Hollywood, onde depois de alguns papeis em filmes pequenos aterrou no ridículo Pearl Harbor. A sua beleza era o melhor do filme. E tem sido a sua beleza e juventude a empurrá-la para figura de filmes de acção. Neste momento está em O Aviador, onde faz de Ava Gardner. A crítica não tem sido favorável: Kate é muito bela, mas tem um ar demasiado inocente para retratar o lado mais duro de Gardner. Talvez a crítica esqueça que esse lado duro foi mais evidente a partir dos anos 50, e não no anos 40 retratados no filme. Mas ainda não vi o filme e não sou especialista... A ver vamos se a Kate continua a exibir a sua beleza em grandes espectáculos (o que já é muito bom!) ou recupera o talento que mostrou nos filmes mais pequenos.
Nuno Anjos